segunda-feira, setembro 29, 2008

Gostava de viver da minha escrita, fosse livros, fosse reportagens! Neste momentos acho que há muita gente a publicar livros. Resta-me esperar por melhores dias. Falei nisto porque um dos meus escritores favoritos (Luis Sepulveda) e um dos meus cronistas favoritos (José Manuel dos Santos) falam de personagens reais que parecem ficcionais. Coisa que também eu faria se escrevesse. Fica aqui como exemplo a última crónica do português.

A Tribuna

Andava pela cidade como o traço rápido que atravessa a folha de papel. Quando o tempo amolecia, ela surgia a lembrar-nos que a vida continua para além da nossa fadiga. Eu olhava espantado a velocidade do seu andar, a rapidez do seu gesto, a pontaria do seu olhar: a necessidade abate, mas também torna as pessoas incansáveis. Ninguém sabia bem como ganhava a vida. Dizia-se que fazia recados e limpezas. Talvez também vendesse coisas insignificantes para quem as não comprasse. Vestia de preto e o seu tímido rosto fechado ia bem com a escuridão do pano. Os vestidos eram-lhe dados e nunca coincidiam com ela: ficavam-lhe compridos ou curtos, apertados ou largos. As faces pálidas estavam vincadas pela vida e pelos seus riscos. Teria um pouco mais da idade a que, porventura com excessiva credulidade, chamamos meia. Eu vi-a passar no Chiado, para baixo e para cima, ou a atravessar a Baixa, para trás e para a frente. Frenética, todos os dias surgia a correr numa rua, a dobrar uma esquina, a atravessar uma passadeira, a mudar de passeio, a entrar numa porta. Era pequena, repentina, eléctrica, meteórica. Um dia, observei os seus pés a desenharem uma diagonal célere e envergonhada no Largo Camões e a desaparecerem no interior de um prédio próximo e gasto, quase arruinado. Percebi que morava ali.

Era ao fim da tarde, quando o sol caía como uma pedra de fogo, que ela saía de casa para realizar o seu último trajecto de um dia cheio deles. Mas já era outra! A humildade dava lugar ao orgulho e a discrição à exibição. Mostrava-se inverosímil e magnífica: maquilhada, usava um vestido de seda clara ou de veludo forte e, sobre os ombros, tinha uma écharpe ou uma pele. Com sapatos de verniz, às vezes punha um chapéu com uma pena. Quando, pela primeira vez, assim a vi, suspeitei que à virtude apressada do dia sucedesse o vício vagaroso da noite. Mas não: a mulher não saía de casa para vender o corpo, mas para oferecer o espírito. O caminho que fazia era largo, limpo e linear. Ela desfilava, segura, ritmada e decidida, numa passerelle imaginária que atravessava a largueza dos Restauradores e subia a amplidão da Avenida da Liberdade, até ao grande monumento que, em frente do que outrora foi o Parque Mayer, se ergue para lembrar aos homens desatentos a I Grande Guerra e os seus mortos. Chegada aí, a mulher parava, contemplava a glória esculpida, dava meia volta lenta e fazia o olhar descer à terra, na qual os seus pés avançavam até à base do memorial. Erguia então a cabeça e o braço, olhava quem passava e, à sombra da pesada eternidade da pedra onde se lê a inscrição "Ao Serviço da Pátria O Esforço da Grei", dirigia o seu discurso à cidade e ao mundo. Naquela retórica, reconhecia-se uma beleza transtornada e sagaz: eu sabia que, naquele momento, Beckett passava sempre por Lisboa.

Durante horas, ela falava do bem e do mal, do triunfo e da derrota, da vida e da morte. Havia no que dizia o sopro épico e o murmúrio lírico, o ardor sagrado e o arrojo profano, o louvor que exalta e o escárnio que abate. Com uma memória infalível, misturava sentenças de livros, diálogos de filmes, réplicas de peças, discursos de políticos, frases da história, provérbios populares, fórmulas judiciais, necrologias de jornais, ditos televisivos, slogans publicitários, prescrições médicas, orações da missa. Cruzava o seu vigoroso português de lei com palavras incertas de outras línguas. Numa tarde em que a luz recusava despedir-se, encontrei na sua voz solene os ecos das vozes de Cícero, de Vieira, de Napoleão, de Churchill, de Kennedy, de Luther King, de Mário Soares, de Natália Correia, do Manuel Luís Goucha e do Ricardo Araújo Pereira. Neste tempo em que tudo se afunda na vulgaridade e na amnésia, o seu verbo velava e mantinha a audácia sonora que dá à vida asas para voar sobre a morte. Há meses que a não vejo. A sua ausência é mais um soturno sinal de que a pequenez dos tempos actuais não suporta a grandeza que a acusa!

sexta-feira, setembro 26, 2008

Estou a melhorar devagar... Deixo um texto de Luis Fernando Verissimo, que muito gosto...

Sem tirar nem pôr

"É você, sem tirar nem pôr".

Nas primeiras vezes em que ouviu a frase, Carlos Henrique achou engraçado. A semelhança era fantástica, diziam todos.

"Cara de um, focinho do outro".

"Tem certeza que você não tem um irmão gémeo?"

"É você, sem tirar nem pôr".

Carlos Henrique só começou a preocupar-se com o sósia quando alguém perguntou:

- Não cumprimenta mais os amigos?

- Porquê?

- Ontem. Você passou por mim como se não me conhecesse.

- Não era eu!

Era o sósia. O sósia ainda poderia causar-lhe problemas.

- Estava bom, o sorvete?

- Que sorvete?

- Vi você comendo um, sorvete, ontem, no xópi.

- Ontem eu não estive nem perto do xópi.

- Era você, sem tirar nem pôr!

O problema não era ter um sósia. O problema era o que o sósia poderia aprontar. O problema era Maura, a ciumentíssima mulher do Carlos Henrique.

E se alguém contasse para a Maura que o vira, não comendo um sorvete no xópi mas abraçado a outra mulher?

Pensou em contar à Maura que andava alguém na cidade com a sua cara.

Que era ele sem tirar nem pôr. Mas não. Poderia parecer que estava inventando o sósia para ter uma explicação pronta em caso de flagrante. Uma espécie de habeas corpus preventivo. Melhor era não contar. Mas ficar alerta. Ficar extremamente alerta para o pior.

E o pior aconteceu. Um dia Carlos Henrique, mal chegou a casa, foi confrontado com uma revista aberta na reportagem em página dupla da festa de um milionário chamado Toninho. Na sua despedida de solteiro, Toninho reunira amigos e amigas na sua ilha, e numa das muitas fotos que ilustravam a reportagem aparecia o Carlos Henrique, de bermudão, entre duas mulheres de biquíni. Carlos Henrique tinha um braço em torno da cintura da loira à sua direita e com a outra mão levantava um brinde ao leitor. Maura só queria saber uma coisa:

- Quem é ela?

Apontando para a loira.

- Maura...

- Não precisa dizer mais nada. Só quero saber quem é ela.

- Maura, esse não sou eu.

- Ora, faça-me o favor!

- Maura, veja onde é essa festa. Em Angra dos Reis. Eu nunca estive em Angra dos Reis. Não conheço nenhum Toninho. Não estive longe de você por um dia nestes últimos anos, ainda mais em Angra dos Reis. E veja o que diz na legenda da foto, Maura.

Na legenda dizia "Oscarzinho Leitão (38), muito bem acompanhado, brinda-nos com seu gin-tónico".

Maura concedeu: era um sósia. Tinha outro nome e outra idade. Além de tudo, Carlos Henrique não gostava de gin-tónico.

Mas que era ele sem tirar nem pôr, era.

A reportagem faz sucesso entre os amigos de Carlos Henrique e Maura e a própria Maura é quem mais ri. Mas de vez em quando Carlos Henrique a pega examinando a fotografia, e no outro dia ouviu ela murmurar:

- Sei não, sei não...

- Maura, pense bem. Eu não poderia estar em Angra dos Reis com um pseudónimo e ao seu lado ao mesmo tempo. Eu não tenho o dom da ubiquidade.

Mas Maura ainda não está totalmente convencida.

- Dos homens pode-se esperar de tudo - diz.
(in Expresso)

terça-feira, setembro 23, 2008

Já parti o braço, o pulso, tive dois pneumotorax, mas nunca senti uma dor tão aguda e prolongada como hoje! A razão foi uma crise renal, provavelmente causada por pedras no rim. Ora bem, estou melhor mas isto é dor chatinha... Vamos lá ver como corre...

segunda-feira, setembro 22, 2008

A propósito de homens ideais, vejam as opiniões de Helena Sacadura Cabral, Maria João Lopo de Carvalho e Inês Castel Branco na revista Única de Sábado. Três gerações, três opiniões...

domingo, setembro 21, 2008

A propósito do comentário anónimo ("outra mulher que ficou farta de ti novamente?") que obtive no último post tenho algumas considerações:

- o comentário anónimo é idiota por várias razões, começando pelo facto de ser anónimo, o que mostra que a pessoa não consegue assumir uma opinião, não mostrando sequer o nome que a emite. Aliás, usei a palavra idiota de propósito porque vêm do grego idiótes, o homem privado - em oposição ao homem de Estado, ou público; ou aquele ignorante em algum ofício, homem sem educação, ignorante, pelo latim idiota. Assim sendo, desprovido de inteligência.

- se o anónimo é alguém que me conhece é idiota porque deveria saber que neste momento tenho uma mulher maravilhosa com quem faço as três coisas e fiz a pergunta na generalidade para ser discutido por pessoas racionais. As mulheres que tive na minha vida e que me tornarem um homem melhor, não se fartaram de mim. Eventualmente fartaram-se da relação (acabou o amor) ou da situação da relação (350 km de distância). De toda a forma sempre respeitei as opiniões e decisões delas.

- se o anónimo é alguém que não me conhece, é ligeiramente mais desculpável mas igualmente idiota, porque pressupôs algo completamente errado. Bastava ler atentamente o post para perceber que estava a fazer uma pergunta na generalidade.

Para terminar, não consigo conceber como é possível alguém enganar-se tanto num comentário. Além de não ter trazido nada de positivo à discussão, procurou presumir algo sobre o autor deste blog que não tem nada a ver com o que eu disse. Se a pessoa em causa tem alguma coisa a dizer-me, que o faça identificando-se neste post ou no mail e eu terei todo o gosto em conversar com a pessoa.

Peço imensa desculpa a quem tem visita o meu blog e nada tem a ver com este assunto.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Chegou a vez dos homens (sendo que as meninas podem comentar).

Porque é que os homens dizem ser emocionalmente monogâmicos e fisicamente poligâmicos?

É um argumento muito usado pelos homens. Nasce da premissa que uma coisa é o sexo e outra é o amor. Que é possível amar alguém e ir para a cama com outras! Ora, este pressuposto entronca com a pergunta que fiz às mulheres. O animal humano, masculino e feminino, surgiu poligâmico. Ou seja, nos primórdios não havia a noção de relação a dois. Os instintos carnais não escolhiam um parceiro definitivo. Foram séculos de construções culturais e societais que fizeram com que o ser humano se regesse normalmente pela monogamia. Digo normalmente porque ainda hoje a religião mórmon e certas tribos africanas (neste caso as mulheres) adoptam a poligamia. Tornamo-nos mais exigentes. Exigimos exclusividade. Pelo menos nos compromissos ou relações. Uma evolução normal. Então porque dizem os homens que ainda querem ser fisicamente poligâmicos? Porque os homens adoram ter uma rotina, para poder fugir dela. Vamos ver se consigo explicar. Os homens adoram ter o seu lugar bem definido e o seu estado bem estabelecido. Gostam de ter uma mulher que lhes dê amor e carinho para poderem amar, proteger e acarinhar. Mas no caso do sexo, os homens não gostam nada de rotina. Cansam-se rapidamente das situações. E começam a cobiçar outras coisas. Qual é o segredo então? Pela parte dos homens, descobrir uma mulher com quem façam amor, sexo e "fodam" (perdoem a linguagem). A parte animal e racional juntas. Por parte das mulheres, entender que o homem precisa de rotina no coração e criatividade na cama (ou chão, ou noutro sítio qualquer)...

segunda-feira, setembro 15, 2008

A 15 de Setembro de 2006 estava zangado com algumas coisas! Sobretudo com o mundo das relações, da forma como os homens são catalogados na generalidade e individualidade. Como a maior parte dos blogs sobre sentimentos eram escritos por mulheres, decidi começar este blog. Como disse no primeiro post, queria que ele fosse cru e verdadeiro. Foi sempre! Fui elogiado e criticado, mitificado e insultado, mas a parte que mais me orgulha é que fui sempre eu mesmo. Este blog tem dois anos e espero que se mantenha por cá enquanto eu tiver vontade de escrever este Diário de um Homem Sentimental.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Comecemos pelas senhoras que sou cavalheiro...

As mulheres procuram amor ou exclusividade?

Se calhar é melhor perguntar, as mulheres querem um homem perfeito ou um homem só delas? É melhor dar um exemplo prático. Mulheres, imaginem o homem perfeito! Não a nossa noção mas a vossa noção. Um homem carinhoso mas com personalidade, bom ouvinte mas conversador, calmo mas sedutor, trabalhador mas disposto a ajudar em casa, ponderado mas divertido, humilde mas com auto-estima, bem educado mas quente na cama. Imaginem que, ainda mais importante, esse homem é louco por vocês, ama-vos como nunca foram amadas, ama-vos como nunca amou ninguém, mima-vos na dose certa, é com ele que querem passar a vida. Mas tem um único defeito! Tem as suas escapadelas. Ou seja, tem casos com outras mulheres. Nada de sentimentos, sexo puro e simples. É a forma de ele continuar a desejar a sua mulher é conhecer outros corpos. Porque todas as vezes que ele faz isso, tem a certeza que a mulher que mais deseja é a sua. Podem perguntar, mas porque precisa ele de estar com outras mulheres? Porque é a única forma não ter dúvidas. Sabendo como é o outro lado da cerca, ele percebe que tem de cuidar do seu lado como se a sua vida dependesse disso. Por isso pergunto às mulheres se querem um amor perfeito (mas que trai) ou um amor exclusivo (que não a faz completamente feliz)...

PS- Já agora, a vossa resposta mudaria se quando ele se apresentasse, ele dissesse qualquer coisa como: "Se perdoares as minhas traições, prometo fazer de ti a mulher mais feliz do mundo..."?

quarta-feira, setembro 10, 2008

Bom ver tanto comentário... Bom estar em boa companhia... Seguir-se-ão duas perguntas aos dois sexos... Aguardem..

domingo, setembro 07, 2008

Ouço muitas vezes que as mulheres são mais maduras que os homens e que as adolescentes amadurecem mais rápido que os rapazes da mesma idade. Então expliquem-me a razão sociológica da histeria feminina (adolescentes e mulheres) em concertos de um qualquer cantor ou banda. Ah, e a expressão: "X (alguém famoso) é o amor da minha vida!"...

sexta-feira, setembro 05, 2008

Vou até à capital e já volto...

quarta-feira, setembro 03, 2008

Neste momento as minhas duas séries de eleição são:

Mentes Criminosas

~

Lost Room



Fantásticas...

segunda-feira, setembro 01, 2008

Uma música potente... De facto I got soul but I'm not a soldier....